O Pêro Verde era comum nas ribeiras, como nos informou a Sra. Maria Caldeira, no Lombo do Salão, freguesia da Calheta, numa visita à Achada do Ribeira, zona alta daquela localidade. As pessoas caminhavam muito até chegar aos pereiros. O Pêro Verde é tenro, aguacento (suculento) e pouco aromático. Nas últimas décadas, tudo o que ficou fora da zona de rega tendeu a desaparecer, como testemunhou a nossa anfitriã.
O pêro do Rodrigues é um pêro de mesa. Este pêro tem cor verde enquanto está verde, mas fica riscado de vermelho quando maduro, como nos informou a nossa anfitriã, a Sra. Maria Caldeira, no Lombo do Salão, freguesia da Calheta, numa visita à Achada do Ribeira, zona alta daquela localidade.
É um pêro do fim de Outubro e Novembro. Antigamente, encanteiravam-no e as pessoas tinham pêros até ao mês de Março. É um pêro pequeno, com cheiro intenso quando maduro. Maria Caldeira recorda que a sua avó colocava-os debaixo da cama, sobre um saco de farinha, e os pêros preenchiam o quarto de um aroma intenso e agradável. Um aroma que permanece como memória da sua infância.
Recolhido no sítio da Carreira, freguesia dos Prazeres, concelho da Calheta, na propriedade da Sra. Maria do Sacramento, num pomar com árvores muito velhas. Encontrámos um único exemplar com meia dúzia de pêros vermelhos, lustrosos.
Quando bem maduro, é um pêro sumarento, sem acidez, muito doce e com um sabor floral, apesar da inexistência de aroma.
Assinalamos o Dia Internacional da Maçã com a divulgação de um pêro recolhido no sítio da Assomada, Caniço, Concelho de Santa Cruz, na propriedade do Sr. Bernardino Ornelas.
Segundo o seu testemunho, não consegue atestar a idade nem a variedade deste pêro, visto já ali existir há muitos anos. É um pêro de grandes dimensões, vermelho e muito atacado pela mosca da fruta. Quando maduro, é sumarento, muito doce e é, talvez, o pêro mais aromático das recolhas que já realizámos.
Recolhido no sítio das Faias, freguesia do Arco da Calheta, num local conhecido como Cova, e segundo testemunho da Sra. Maria Isabel Órfão, é muito parecido a um pêro ali existente, em tempos idos, e que era conhecido por pêro pevide. Imagem do fruto recolhida no final do mês de setembro, época da apanha para consumo.
Este pêro maduro apresenta um grande potencial para pêro de mesa, já que perde o amargo que o caracteriza enquanto verde. Caracteriza-se ainda por não ser nada aromático, é farinhento e praticamente sem acidez.
Pêro Branco localizado no Junqueiro, Florenças, Arco da Calheta, pela Sra. Maria Isabel Órfão. Imagem do fruto recolhida no final do mês de setembro, época da apanha para consumo.
Trata-se de um fruto semelhante a outros existentes noutros sítios da Ilha e que eram utilizados na produção de sidra, os quais eram também denominados de “pêro branco”. Por ser um pêro suculento, isto é, com muito sumo, era usado para o então chamado vinho de pêros, na freguesia do Arco da Calheta, segundo testemunho da Sra. Maria Isabel Órfão.
Quando maduro, o pêro branco, além de suculento, é doce, sem acidez, com pouco aroma, mas muito saboroso, o que justifica o facto de alguns exemplares deste pereiro terem resistido, estoicamente, até aos dias de hoje.
Pêro Encarnado localizado pela Sra. Maria Isabel Órfão, na Vargem, Florenças, Arco da Calheta. Imagens do fruto recolhidas no final do mês de setembro, época de maturação deste pêro. Trata-se de uma variedade muito semelhante a um pêro que existia, há muitos anos, no sítio da Ribeira de Machico, usado sobretudo na produção de sidra. Por ser um pêro doce, suculento e sem acidez, criava uma sidra equilibrada.
Quando maduro apresenta-se um pouco farinhento, com aroma discreto, com um sabor muito agradável, pelo que era também colhido pelos agricultores para pêro de mesa.
A Sra. Maria Isabel referiu ser um pereiro muito antigo, visível pelo grande e velho tronco, que domina o espaço do terreno em que está implantado. A nossa anfitriã disse ainda que se usarmos um dos galhos do pereiro com umas saliências, tipo verrugas, para plantar de estaca, no primeiro ano já dará fruto.
Pêro Focinho de Rato, segundo localização por parte da Sra. Maria Isabel Órfão, nas Faias, Arco da Calheta, num local conhecido como Cova. Imagem do fruto recolhida no final do mês de setembro, época de maturação deste pêro.
Trata-se de uma variedade que surge em diversas localidades da Ilha da Madeira, sendo em algumas delas utilizado na produção de sidra. No “Manual Técnico da Macieira” (2021), publicação do Centro ISOPlexis da Universidade da Madeira, pode ler-se que este fruto tem «forma cónica, de tamanho médio a grande», com a casca de «coloração vermelho-alaranjada e de intensidade clara», sendo a «polpa esverdeada». A propagação pode ser pode ser por estacaria ou enxertia.
Pêro Água-Pé dos Prazeres, segundo testemunho da Sra. Maria Ângela Calaça, octogenária. É um pêro meio-doce, mas torna-se doce se consumido com a casca. Este pêro é do tarde, já que no final do passado mês de Setembro [de 2023], depois de um Verão particularmente quente, estava em fase de maturação. O pereiro encontra-se semi-oculto numa moita de cana-vieira.
Há quase vinte anos que procurávamos um exemplar desta variedade de pêro Mancano. Pelo relato dos mais antigos, em tempos idos terá havido uma apreciável produção, mas com o abandono dos terrenos e os incêndios a variedade Mancano era dada como quase extinta. Quando procedíamos à colheita de pêro da Ponta do Pargo, no sítio do Lombo, descobrimos dois velhinhos exemplares centenários a contemplar o mar, recusando-se a morrer mesmo com a provecta idade.
Pêro rajado, semelhante ao da Ponta do Pargo apenas no aspecto, ácido, duro, suculento e com algum amargor no final, pelo que era usado quase exclusivamente para a produção de sidra, o qual depois de pisado com pisões de madeira dava o precioso sumo, que alguns agricultores aproveitavam para juntar ao mosto de uvas e, assim, aumentar uns litros a produção de vinho para consumo caseiro.
No sítio do Amparo, Ponta do Pargo, há um lagar para produção caseira de vinho de uvas, o qual possui a curiosidade de incluir uma pia em pedra onde eram pisados os pêros e o sumo escorria, directamente, para o lagar misturando-se com o mosto de uvas.
Voltando a referenciar Vieira da Natividade, na sua passagem pela Madeira foi com surpresa que constatou a existência de algumas variedades de pêros e maçãs nas zonas altas do Estreito da Calheta. Destacamos, desta vez, o pêro Pão. Quando maduro tem uma polpa farinhenta, daí o seu nome regional. Apesar de tudo, é um pêro que dura bastante e, por isso, na freguesia próxima da Fajã da Ovelha também é chamado de Dura-dura, uma vez que dura até Fevereiro sem frigorífico. É um pêro com uma considerável dimensão.
Pêro tenro e aromático, de cor vermelha e verde, parecido ao pêro da Fajã da Ovelha. Encontrado entre loureiros, em propriedade que era pertencente à Sra. Augusta Andrade, junto à Sidraria dos Prazeres. Os seus descendentes calculam que o pereiro ultrapasse os cem anos.
Pêro Calhau da Ribeira de Machico, Santo da Serra. Enquanto não está maduro, faz jus ao seu nome: calhau. É um pêro duro, amargo e com forte acidez. Dos mais utilizados para a sidra, e por isso escapou à erosão das variedades. Muitos agricultores acham-no intragável e, portanto, a sua produção é quase exclusiva para a produção de sidra.
O Pêro dos Prazeres é semelhante ao Pêro da Ponta do Pargo, mas mais pequeno. Em 2019 foi alvo de uma alargada propagação vegetativa, através de enxertia, por estar em risco de extinção. Uma iniciativa da Quinta Pedagógica dos Prazeres, que ofereceu um exemplar a cada família da freguesia. Presentemente, existem novos exemplares por toda a localidade e fora dela.
Talvez o pêro mais identitário da zona da Ribeira de Machico, Santo da Serra, seja o Pevide. De acordo com a observação, vemos que tem características morfológicas diferentes, mas o sabor não engana. É um pêro que se utiliza para a nossa Sidra da Madeira IG, mas também, até aos anos 80 era muito apreciado, nas zonas piscatórias de Machico e Caniçal, como pêro de mesa dadas as suas óptimas qualidades organoléticas. Foi, durante os anos em que foi comercializado, uma importante fonte de riqueza para os agricultores. É um pêro suculento, crocante e doce na dose certa.
O Pêro Amargo da Ribeira de Machico já é muito raro na Ilha da Madeira. Sem acidez é muito relevante o seu amargor. São pêros (ou maçãs) que têm grande longevidade na árvore, chegando a durar até Dezembro. É uma das variedades com mais taninos, pelo que é utilizado para equilibrar a típica Sidra da Madeira IG.
O Sr. Adelino, do Estreito da Calheta, é um coleccionador de pereiros e memórias. Levou a cabo uma propagação de um antigo pereiro da serra com mais de cem anos. Numa furna de pastores, que se transformou em retiro para patuscadas de amigos, havia um pereiro muito envelhecido e o Sr. Adelino não se fez de rogado, trouxe uma haste que enxertou. Em 2022 conta com dez anos está repleto de pêros, a que ele chama de “pêros da furna dos pastores”.
Na fazenda do Sr. Gabriel Agrião fomos encontrar a árvore de um pêro que ele chama “Água Doce”. Um pêro do cedo, de polpa firme até ficar maduro e farinhenta de seguida. De sabor “especiado” a baunilha, é um pêro delicioso, que nos mata as saudades das maçãs frescas. Mas o Sr. Gabriel mostrou-nos muito mais: primeiro, que é um guardião diplomado de variedades antigas e, depois, que detém uma colecção de pereiros de fazer inveja a qualquer “sidromano”.
O Pêro da Fajã de Ovelha é, presentemente, uma autêntica raridade, mas em tempos, nas zonas altas, acima dos 500 metros, era bastante abundante na freguesia. É um pêro frágil, mas de sabor acentuado e epiderme com pouca textura. Deve ser colhido em meados de Setembro e tem pouca capacidade de preservação. Encontramos uma árvore no sítio das Eirinhas, com uma vista privilegiada do oceano.
Este é o pêro branco dos Prazeres. Encontramos esta variedade muito antiga na freguesia. Há cerca de 15 anos só existia uma única árvore. Fizemos algumas enxertias e hoje existem exemplares espalhados nos Prazeres. São pereiros que fazem parte da juventude dos nossos idosos, que se lembram de os apanhar na sua longa caminhada para a escola primária. É um pêro mais para o tardio, com época de colheita em finais de Setembro. No momento da apanha deve ter polpa firme e epiderme bem dura e crocante, que lhe confere maior longevidade. Se for colhido tardiamente, a polpa fica enfarinhada e sem sumo. De sabor adocicado e com a acidez típica da fruta da Madeira, faz parte dos pêros que produzem a sidra aRRebITa.